Se o seu filho gosta de colecionar álbum de figurinhas, você pode aproveitar essa brincadeira para ensinar 10 lições valiosas de Educação Financeira! O meu exemplo é o álbum da Copa do Mundo de 2022, que custou R$ 12, além de R$ 4 por pacote com 5 cromos cada (no total, eram 134 pacotes). Ou seja, a brincadeira custou R$ 548. Mas valeu muito mais do que isso ao ensinar habilidades preciosas e ainda entretê-los longe das telas por alguns meses. Porém, tudo depende de como você, adulto, gerencia a brincadeira. Vamos descobrir como fazer então?

1ª lição: paciência

Paciência é uma habilidade essencial para quem quer realizar um projeto grande ou enriquecer. O álbum pode ensinar isso na prática!

Não compre o álbum pronto, ou seja, os 134 pacotes de uma vez. Cá pra nós, você pode até comprar, mas não dê tudo de uma vez! Nós, adultos, estamos ANSIOSOS. E perdemos a chance de permitir que as crianças e adolescentes saboreiem todo o processo de montar o álbum ao longo do TEMPO. Se você der 2 pacotes por dia, vai levar mais de 2 meses para montar todo o álbum. Em outras palavras: ele vai ter a emoção de abrir novos pacotes todo dia por mais de 2 meses!

2ª lição: desfrute

As crianças precisam aprender a valorizar aquilo que já conquistaram. Só assim poderão desfrutar o benefício, o bem estar que o dinheiro pode proporcionar para nossas vidas. Quando a gente compra algo e logo deixa de lado, o preço que pagamos acaba não valendo a pena. Mas quando a gente desfruta das coisas que nosso dinheiro nos proporcionou, aí nos sentimos mais gratos e mais satisfeitos, sem necessidade constante de comprar mais.

Mostre ao seu filho como aproveitar toda a experiência de montar o álbum: ler todas as histórias que ele conta, entender o que significam aquelas informações em cada figurinha. Como são os estádios. A história do torneio. Os recordes das Copas. Pensem juntos o que escrever nos espaços em branco. Tudo isso o ensinará a curtir seu álbum por mais tempo.

3ª lição: lidar com a frustração

Na vida financeira, nós faremos planos que serão frustrados: pensamos em poupar X, mas surge um imprevisto e sobra menos; planejamos uma compra daqui a uns meses, mas o preço aumento; decidimos nos aposentar na idade tal, mas ficamos desempregados no meio do caminho e acabamos tendo de adiar, etc. Lidar com a frustração é essencial para superar os desafios e refazer a rota.

É o que acontece quando a criança abre o pacotinho e todas as 5 figurinhas são repetidas… Uma droga! Mas aí a gente se acalma, bota na mochila e tenta trocar com os amigos na escola. E se não conseguir, começa a perguntar quem mais está colecionando – nisso, surgem até novas amizades.

4ª lição: esperar rende

O investimento rende porque você abre mão de usar aquele dinheiro agora para esperá-lo render e poder ter mais no futuro. Você pode ensinar que adiar o benefício pode ter recompensas.

Depois de algumas semanas dando 2 pacotes por dia, expliquei que tinha esquecido de comprar naquele dia e fiz uma oferta para as crianças: ou eu vou na rua agora de noite e compro 2 pacotes ou vocês esperam até amanhã e compro 4 pacotes. (Fiz outras propostas como esta ao longo do álbum, mas sempre neste formato: se esperar, ganha mais.) Não importa se seu filho vai aceitar ou não – ele ainda é pequeno. Mas importa muito você propor, porque ele vai descobrir que essa possibilidade existe e vai começar a pensar sobre.

5ª lição: objetivos definidos

Sabe por que as pessoas que “querem ficar ricas” nunca conseguem? Porque “ficar rico” é tão genérico que a pessoa nem sabe se está ou não rica. Não alcança nunca. Mas se o objetivo é atingir um padrão de vida XX ou morar no bairro tal ou acumular um patrimônio Y – aí sim, tem chance. E geralmente precisamos colocar nossos objetivos em ordem de prioridade: não dá pra alcançar tudo de uma vez.

O álbum ajuda a definir objetivos concretos: completar o primeiro time. Conseguir a figurinha 001. Completar a seleção brasileira. Completar o álbum todo. Entre outros. E muito importante: comemore a cada objetivo alcançado! Isso ensina a valorizar a sensação de satisfação que tanto buscamos!

6ª lição: organização e zelo

Ter as finanças organizadas é fundamental para entender quanto se gera de dinheiro, quanto se gasta e quanto se pode poupar para concretizar seus projetos. Esse é o ponto de partida. Sem isso, não adianta fazer o plano financeiro mais mirabolante e selecionar o melhor investimento que não vai funcionar: porque não se sabe nem quanto de dinheiro está entrando!

Seu filho pode participar ou fazer sozinho a organização das figurinhas já coladas e das que faltam. Assim, terá mais autonomia inclusive para fazer as trocas com os amigos. Quem tenta trocar de cabeça, uma hora ou outra se enrola e troca repetida ou, pior, troca a que não tinha. E ainda deve zelar pelo que é dele, cuidando do álbum para não rasgar durante todo o processo de colecionar.

7ª lição: PREÇO X VALOR

Preço e valor são conceitos bem diferentes, mas muito confundidos. Resumindo: preço é o que você paga e valor é o que você leva. Às vezes coincide de algo valioso para você ser mais caro, mas nem sempre. O valor de algo é definido principalmente pela própria pessoa, mas outras variáveis interferem. Depois confere este artigo de Educação Financeira que fala mais sobre isso.

Em alguns poucos pacotes ao acaso, vinha, além das 5 figurinhas padrão, uma extra que era uma LEGEND. Estas legends eram super valiosas: todo mundo queria e quase ninguém tinha. Mas na realidade, elas eram de graça, pois eram a sexta do pacote. Ou seja, seu valor não vinha do preço, mas do desejo de obtê-la e de sua raridade. Claro que no mercado paralelo, tinha legend sendo vendida e comprada por milhares de reais. Mas é uma oportunidade única para ensinar sobre a diferença entre preço e valor!

8ª lição: pedir e receber ajuda!

É muito comum acharmos errado receber ajuda financeira – não só dinheiro emprestado, mas orientação especializada de como organizar as finanças e como investir. Mas não deveria, porque as pessoas têm habilidades diferentes e é normal não ter conhecimento técnico de finanças!

Na primeira troca de figurinha que fiz para meus filhos, a pessoa com quem eu troquei não precisava de nenhuma das minhas repetidas. Mesmo assim, falou para eu pegar as que eu precisasse do bolo dela e trocaria por repetidas mesmo. Senti como se estivesse lesando o rapaz, mas depois fui percebendo como isso era ótimo. Quando meu bolo cresceu, ofereci o mesmo para outras pessoas e isso facilitou e agilizou as trocas!

No último dia, quando estávamos trocando com desconhecidos no shopping, um menino pediu o brasão do Brasil e eu não tinha repetido. Ele também não tinha um jogador brasileiro que nos faltava. Mas, em seguida, eu vi uma moça com o brasão. Parei tudo, chamei por ele e falei pra trocar com ela. Ele conseguiu o brasão e ficou radiante. Minutos depois, desisti de conseguir o jogador brasileiro e já estava comprando avulso, quando o menino apareceu na minha frente dizendo que viu o jogador com alguém e trocou pra poder me dar. Foi emocionante.

9ª lição: brincadeiras com números

Como um mínimo de habilidades matemáticas é imprescindível para as finanças, incentive seus filhos a brincarem com os números. Meus meninos contavam as figurinhas coladas e calculavam quantas faltavam; faziam competição entre as seleções (com mais ou menos figurinhas coladas); agrupavam figurinhas em dezenas; entre várias outras brincadeiras!

E quando queriam usar o próprio dinheiro, do cofrinho, tinham de saber o preço do pacote e calcular quantos pacotinhos podiam comprar. Calcularam até quanto valia cada figurinha, pois no final, acabamos comprando a última que faltava e que não conseguimos trocar com um rapaz que vendia avulsa. Cada pacote com 5 figurinhas custava R$ 4 – logo cada figurinha custava R$ 0,80. Tinha vendedor que cobrava de R$ 1 até R$ 5 por figurinha (dependendo se era brilhante ou normal, do Brasil ou não, etc.).

10ª lição: a experiência

Existem pesquisas científicas comprovando que o que mais traz felicidade ao ser humano são as experiências – sejam as cotidianas ou as extraordinárias, as simples ou as únicas. Quando a gente deseja muito um produto bem caro (carro, bolsa, imóvel, etc.), nos empenhamos em comprá-lo. Porém, nosso cérebro se acostuma a tê-lo e, em pouco tempo, ele já não nos traz satisfação. Por outro lado, a experiência vivida marca nossa memória de forma diferente e continuamos obtendo satisfação dela mesmo tempos depois, como as boas lembranças de uma viagem fantástica.

O dinheiro pode te ajudar a comprar um produto ou realizar uma experiência, como a viagem ou o álbum. Porém, o álbum em si, depois de pronto, é só mais um que ficará guardado na gaveta (se não for pro lixo). Mas a memória do dia a dia abrindo pacotinhos, das trocas com os amigos, da colagem, a emoção de completar o álbum – essa fica pra sempre.

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