Às vezes, pode parecer que a economia e as finanças pessoais estão de lados opostos: os mercados precisam de consumo crescente para se desenvolverem e as famílias precisam reduzir gastos para não se endividarem e manterem as contas equilibradas. No entanto, é crucial entender que, na verdade, Economia e Finanças Pessoais têm uma correlação POSITIVA e não NEGATIVA.
Isso quer dizer que quando a sociedade está saudável financeiramente – a maioria das famílias consegue comprar tudo de que precisa, pagar pelo seu conforto e ainda poupar dinheiro – provavelmente a economia daquela região estará indo bem também. E vice-versa: quando a economia cresce, as famílias enriquecem. E o contrário também é verdadeiro: se as famílias não têm capacidade de poupança e/ou se endividam excessivamente, isso acaba afetando negativamente a economia. Ou se o cenário econômico está estagnado ou em recessão, as famílias empobrecem.
Aprofundando…
O crescimento da economia é benéfico para as finanças das pessoas à medida que permite aumentar a renda (salário) da população. Já quando a economia vai mal, tende a gerar desemprego, achatamento de renda, encarecimento ou escassez de produtos essenciais, como alimentos e remédios, e empobrecimento da população. E o que acontece quando uma sociedade tem suas Finanças Pessoais equilibradas? Ou seja, consome o necessário E O DESEJADO, mas mantém uma taxa de poupança, fazendo reserva de dinheiro para emergências, planos de viagens, aposentadoria, etc?
Aí a economia tende a apresentar um crescimento sustentável ao longo do tempo (claro que existem diversos outros fatores que interferem, mas aqui abordamos só este), pois além do consumo imediato (do necessário e do desejado), é a poupança das pessoas que financia o desenvolvimento de novos projetos, como pesquisas de saúde (vacinas, novos tratamentos), melhorias urbanas (transporte, saneamento, etc.), tecnologias mais sustentáveis, entre centenas de outros.
Porém, se as Finanças Pessoais das famílias estiverem mal, o impacto será negativo na Economia também. Uma pessoa que consome em excesso, se endivida e fica inadimplente. Essa inadimplência gera um custo extra para outras pessoas que gostariam de financiar um imóvel ou pegar um empréstimo para abrir um negócio, por exemplo. Para se ter uma ideia: estudo da Serasa de junho calculou o total de inadimplência no Brasil em mais de R$ 340 bilhões. De forma simplista, os valores não pagos (e os custos oriundos dele, como empresas de cobranças, advogados, processos judiciais, etc.) são rateados entre os novos empréstimos em forma de taxas de juros mais altas. Quando a inadimplência cai, o custo (incluindo a previsão de prejuízos) cai também, o que abre espaço para juros menores.
Além disso, quando uma população tem taxa de poupança baixa, isso significa que tem menos dinheiro disponível para financiar os projetos da sociedade – em saúde, infraestrutura, educação, entre outros. E mais: sem poupar para seu próprio futuro, na velhice, as pessoas dependerão mais do governo, de caridade, da ajuda de familiares… Renovando o ciclo vicioso.
E o consumo?
Bem, o consumo é, sim, um dos pilares do crescimento de uma economia, mas não é o único. O ponto principal é que consumo é diferente de consumismo. Em um planejamento financeiro pessoal, não se deve – nunca – cortar os supérfluos. Além disso, é preciso ter em mente que lazer é essencial ao ser humano. Mas uma coisa é o consumo e outra, bem diferente, é o consumismo. Apesar de serem bem diferentes, a linha divisória é tênue para quem está dentro da situação. O consumismo já entra muito mais na esfera da psicologia do que da economia. Existe um grande campo de pesquisa e estudo sobre isso que são as finanças comportamentais.
Mas quando é que o consumo se torna excessivo? Quando você descarrega o emocional nas compras. Não é que todo consumo precisa ser racional: ao contrário. Nós podemos e devemos direcionar nosso dinheiro para o que nos traz satisfação. Mas se toda sua satisfação vem de produtos ou serviços comprados, tem algo de errado.
Eu tenho inúmeros exemplo de alunos e clientes, mas vou resumir apenas alguns. Antes disso: se você está em paz com suas finanças pessoais e se sente bem com a fatura do seu cartão, não há nada de errado. Agora, se você sente que nunca tem dinheiro para nada, acha que ganha bem, mas nunca “sobra” ou está sempre endividado: então você precisa olhar para o seu consumo.
Consumismo é quando…
Imagina uma pessoa endividada, que precisa atrasar alguma conta todo mês por falta de dinheiro, mas que compra 1 livro por semana. “Anna, mas livro é estudo, investimento”. Sim, mas quando sugeri ler livros emprestados ou de uma biblioteca, ela disse que não consegue, precisa TER o livro. Quando mencionei trocar livros com alguém, ela achou um absurdo. Quando propus de revender alguns que já leu para usar este dinheiro para comprar novos, ela disse que “se sente traindo os personagens” (palavras dela). Isso não é consumo, é consumismo.
Imagina uma pessoa que considera seu próprio salário bom, mas que não consegue pagar o aluguel. Ao olhar para seus custos, quase metade do salário vai em “bem-estar”: diversas atividades físicas e vários tipos diferentes de terapias por semana, inúmeros suplementos alimentares, consultas mensais com endocrinologistas, nutricionistas, nutrólogos, entre outros profissionais. Investir em saúde física, mental e emocional é muito importante, mas não a ponto de colapsar a saúde financeira.
Estes são apenas alguns dos exemplos extremos. O mais comum são situações menos gritantes, mas que incomodam e minam as finanças ao longo dos anos. Se você quer saber se seus gastos são o mais legítimo consumo necessário e desejado ou se estão beirando o consumismo: liste seus custos de forma detalhada por 3 meses e os observe. Precisando de ajuda, me chama!