Por que os preços são tão altos no Brasil?

Um carro Nissan Versa novo custa cerca de 15 mil dólares nos Estados Unidos – com o dólar custando R$ 5, a conversão fica em R$ 75 mil. Porém, este mesmo modelo custa cerca de 100 mil reais no Brasil. Ou seja, o carro aqui é 33% mais caro.

 

Já uma versão recente do MacBook está sendo vendida no Brasil por 24 mil reais, o que daria 4.800 dólares. Porém, nos EUA, o mesmo produto custa 2.000 dólares – menos da metade!

 

Para entender por que os preços são tão caros no Brasil, é preciso conhecer dois conceitos: o “Custo Brasil” e o “Risco Brasil”.

 

CUSTO BRASIL

 

No Custo Brasil, podemos listar alguns fatores que encarecem os preços de produtos e serviços:

 

🔺 Baixa produtividade

 

Isso não quer dizer que você trabalha pouco, ok? Significa que, na média, os brasileiros produzem pouco resultado para o trabalho que realizam. Dentre as causas para nossa produtividade cronicamente baixa está a baixa escolaridade da população. De acordo com o IBGE, em 2022, quase 47% das pessoas com 25 anos ou mais não havia concluído a educação básica obrigatória.

 

Além disso, o país investe pouco em inovação: em 2021, ocupava a 57ª posição no ranking de 132 países no Índice Global de Inovação, uma queda de dez posições desde 2011. A adoção massiva de tecnologia poderia contribuir muito para melhorar este indicador.

 

Os diversos entraves ao ambiente de negócios, como burocracia excessiva e sistema tributário extremamente complexo, também travam a produtividade. Relatório da TMF de 2021 que analisou 290 critérios do ambiente de negócios e compliance de 77 países classificou o Brasil como o país mais complexo do mundo para fazer negócios.

 

Para efeito de comparação, são necessários 4 brasileiros para fazer o trabalho de 1 americano.

 

🔺 Baixa concorrência

 

Como somos um dos países mais fechados do mundo (de acordo com o projeto Our World in Data, da Universidade de Oxford), a concorrência em nossos mercados é pequena, o que não incentiva a redução de preços. Além disso, alguns mercados são excessivamente regulados, o que privilegia quem já está atuando, mas dificulta a chegada de novos competidores, que poderiam pressionar os preços para baixo.

 

🔺 Ineficiência

 

Como o Brasil é um país de grandes dimensões, a ineficiência logística tem impacto significativo no custo dos produtos. Porém, no transporte de mercadorias dentro do país, usa-se muito mais rodovias, que são mais caras, menos eficientes e mais sujeitas às flutuações do preço do petróleo do que ferrovias, por exemplo.

 

Os incentivos fiscais mal construídos geram mais concentração de mercado e drenam recursos públicos das áreas mais necessitadas, como saúde, educação, saneamento, etc. Gravei um vídeo explicando melhor como funciona esta dinâmica e qual seu impacto aqui: https://www.youtube.com/watch?v=9lE_6siWL8I&list=PLu6qpF9DMPlEPY5oTAOQIWEfCmhWMHV5F&index=12&t=6s

 

A judicialização excessiva de conflitos somada com o longo prazo para soluções definitivas sobrecarregam os custos e impactam a eficiência das empresas, o que encarece processos e, consequentemente, os preços de produtos e serviços.

 

🔺 Sistema e carga tributária

 

O Congresso Nacional acaba de aprovar uma Reforma Tributária e ainda será necessário acompanhar o desenrolar desta medida, pois ainda há trechos a serem regulamentados. Porém, durante mais de 30 anos, os brasileiros convivem com um sistema tributário extremamente complexo. São mais de 90 tributos e impostos das esferas federal, estadual e municipal. As empresas precisam dedicar muitos recursos apenas para acompanhar as mudanças tributárias diárias, calcular as alíquotas devidas e de que forma devem ser recolhidas. É um custo altíssimo que não gera nenhum retorno e é simplesmente repassado aos preços.

 

Mas além de toda a trabalheira para lidar com o sistema tributário, o Brasil ainda tem uma carga tributária de cerca de 33% do PIB. Isso quer dizer que de todo o dinheiro que circula na economia, um terço vai para o governo. O problema é que, desse montante alto, apenas uma parte retorna para a sociedade em forma de serviços públicos. A outra parte alimenta apenas o governo, sem proveito da sociedade. Ou seja, é um custo que os brasileiros pagam através de tudo que consomem. Neste vídeo eu listo quatro grandes problemas da tributação no Brasil: https://www.youtube.com/watch?v=7K0JunWYCz0&list=PLu6qpF9DMPlEPY5oTAOQIWEfCmhWMHV5F&index=10

 

RISCO BRASIL

 

Já para entender o impacto do Risco Brasil é preciso compreender que os riscos são mensurados e precificados pelas empresas e por algumas pessoas também. É o que você faz quando decide contratar um seguro de vida, por exemplo, para proteger o sustento dos seus filhos caso você venha a falecer. Existem algumas metodologias para medir o risco de países (assim como de empresas também) e uma das mais usada no mercado financeiro é o CDS. Hoje, o Risco Brasil está quantificado em torno de 140 pontos.

 

🔺 Insegurança Jurídica

 

Uma das principais inseguranças que compõe o risco de um país é a jurídica, quando as leis não são específicas o suficiente e podem ser interpretadas de diferentes formas. Daí, a pessoa jurídica ou física se planeja para estar em conformidade com a lei, mas uma interpretação diferente da Justiça, por exemplo, a condena – a pagar multas ou refazer algum processo.

 

Outro problema é que o sistema judiciário brasileiro aceita mudanças retroativas, o que é uma fonte inesgotável de insegurança jurídica: ninguém nunca está correto conforme a lei determina, pois a lei ou suas interpretações podem ser mudadas retroativamente (valendo para o passado).

 

Um exemplo é o de empresas que recolhem impostos por anos conforme a lei vigente; porém, num determinado momento, a Justiça muda o entendimento da lei tributária retroativamente por cinco anos. Neste momento, as empresas passam ter feito o recolhimento errado no passado. E, além de ter de corrigir os pagamentos, ainda incide multa, já que o valor está atrasado.

 

Tudo isso faz com que as empresas precisem se preparar financeiramente – quando não desembolsar mais dinheiro literalmente – para este tipo de “imprevisto”.

 

🔺 Insegurança Física

 

A insegurança física também pesa nos preços. Roubos de cargas e assaltos a lojas, por exemplo, obrigam as empresas a gastarem mais com segurança, como contratação de vigilantes ou compra de sistemas anti-furto, entre outros. Além disso, as mercadorias roubadas são contabilizadas como prejuízos, o que vira custo sobre os outros produtos a serem vendidos.

 

🔺 Inadimplência e Fraudes

 

Os bancos e seguradoras (e outras empresas também) medem continuamente o percentual de inadimplência e fraude para diluir este prejuízo nos demais contratos. Exemplo: quando alguém não paga uma dívida, esse prejuízo do banco vai ser diluído em outros empréstimos sob a forma de uma taxa de juros mais alta. Ou seja, quanto maior a inadimplência e as fraudes, maior a taxa de juros ou encargos que serão cobrados dos demais clientes.

 

 

E ainda tem a corrupção, que pesa financeiramente sobre os ombros da população. De acordo com o Índice de Percepção da Corrupção, elaborado pela Transparência Internacional, o Brasil ficou em 94º entre 180 países neste ranking, que avalia a integridade do setor público.

 

Conhecer os motivos que levam os preços a serem tão altos no Brasil é o primeiro passo para a sociedade poder cobrar mudanças que efetivamente solucionem o problema. Não somente cobrando dos governantes que elege, mas também de si mesma.

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